Grupos de jovens em algazarra nos corredores de centro comercial assustam freqüentadores e lojistas
Marcelo Brandão
Tarde de sábado no Shopping Iguatemi. O que poderia ser um prosaico passeio em busca de uma pechincha irresistível se transforma em um grande susto – uma horda de adolescentes passa em correria, gritando coisas incompreensíveis, em provocações mútuas. No “arrastão”, eles não levam nada, a não ser a paciência e a tranqüilidade de freqüentadores, lojistas e funcionários do shopping. A invasão das chamadas tribos urbanas no centro comercial _ também às quartas-feiras, quando o cinema é mais barato _ vem afastando os clientes e até causando queda nas vendas.
Em carta datada do último dia 5 de março, endereçada à direção do Iguatemi, a Associação dos Lojistas acusa os grupos de jovens de agredir verbalmente clientes e funcionários, além de arrumar brigas entre eles mesmos, e cobra providências, inclusive com apoio legal. No documento, assinado pela presidente da associação, Graça Valadares, os lojistas denunciam que os grupos vêm “produzindo pânico com sua movimentação aos gritos pelos corredores”, e fazem um alerta: “Não podemos confundir tolerância com imobilismo” (veja fac-símile nesta página).
Simone Queiroz, funcionária da loja de moda praia Movimento, situada próximo à praça de alimentação do 3º piso, onde as tribos urbanas costumam se concentrar, confirma que a desordem dos adolescentes está afastando os compradores aos sábados e prejudicando as vendas. Ela acrescentou que os seguranças estavam isolando a área da praça de alimentação, com cones e cordas, para proibir a presença dos jovens no local. Mas, segundo ela, a medida também espantava os clientes, que achavam que a área estava interditada. “Até os funcionários têm que mostrar a identificação para passar”, reclamou.
A comerciária T.R., que trabalha em uma loja de roupas próxima e pediu para não ser identificada, contou que a confusão causada pelos grupos já levou alguns lojistas a fechar as portas por alguns minutos, por medo e para tranqüilizar os clientes. “Eles gritam e saem correndo, a gente pensa que aconteceu algo, mas quando vai ver é só brincadeira deles. Mas assusta”, contou. Caroline Freitas, 19 anos, caixa do boxe Café da Praça, contou que as tribos ficam por perto, fazendo barulho e impedindo a aproximação dos clientes. A funcionária de uma lanchonete da praça de alimentação, que preferiu não se identificar, disse que já foi agredida verbalmente porque se negou a vender cerveja para uma adolescente menor de 18 anos.
O consumo abusivo de álcool, aliás, é uma das reclamações constantes quanto ao comportamento dos grupos. Eles também são acusados de promover cenas de violência, principalmente entre tribos rivais, mas, na maioria dos casos, tudo não passa de troca de insultos verbais. Roqueiros, skatistas, emos e a turma do hip hop reclamam que estão sendo discriminados. Por tudo: pelo tipo de roupa, pelo comportamento, pela condição social e até pela cor da pele. Para especialistas, a explicação é simples: coisa da idade.
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Shopping reforça segurança
A administração do Shopping Iguatemi reagiu rápido e prontamente atendeu à solicitação da Associação dos Lojistas. A direção do centro comercial informou que aumentou o número de seguranças aos sábados e solicitou apoio aos comissários de menores que atuam no posto instalado no local. A equipe do Correio da Bahia flagrou policiais civis atuando junto com os vigilantes do shopping. Segundo informações apuradas no local, os agentes teriam sido contratados pelo Iguatemi, prática considerada ilegal. Já a assessoria de imprensa do estabelecimento disse não saber sobre a presença dos policiais.
A maior parte dos vigilantes se concentra nos três pontos onde os grupos de jovens costumam ficar aglomerados: na praça de alimentação do 3º piso, no saguão próximo aos guichês dos cinemas, e na área em frente ao Playland. A equipe de reportagem verificou dezenas de seguranças sem farda, apenas portando radiocomunicador, enquanto alguns outros estavam fardados. Durante as quase cinco horas em que os repórteres permaneceram no shopping, os vigilantes, apesar de agirem com educação, não deram trégua aos adolescentes, monitorando-os todo tempo, impedindo que ficassem parados, e chegaram a retirá-los das mesas, em caso de não haver consumo.
Foi um verdadeiro jogo de gato e rato entre seguranças e os grupos de adolescentes, na tarde do último sábado. A primeira turma chegou ao Iguatemi por volta das 14h30 e foi direto para a praça de alimentação. Vestidos de preto, usando camisas de bandas de rock, braceletes e botas tipo coturno, o grupo era composto por sete rapazes e apenas uma jovem. Logo que se sentaram em uma das mesas da praça Newton Rique, dois seguranças grandalhões alertaram os colegas pelo radiocomunicador e se aproximaram do grupo.
Na primeira manifestação mais exaltada dos roqueiros, um dos seguranças pediu para que eles deixassem a mesa, já que não estavam consumindo nada. A turma acatou pacificamente, saiu do local e começou a circular pelas alamedas. Assim que os adolescentes pararam junto a um corrimão da praça Simões Filho, situada a poucos metros, foram logo advertidos por um segurança de que não poderiam ficar ali. Mesmo impedindo a liberdade de ir e vir dos jovens, os seguranças foram educados e acabaram sendo atendidos.
Logo, os grupos já se multiplicavam pelos corredores e praças do shopping. Uma galera de skatistas exibia bermudas largas, bonés, meias esticadas até a metade da canela. A poucos metros, dois rapazes com aparência de emos, cabelos com franjas longas e olhos pintados, conversam sentados. Indentificando-se como hip hop, uma turma de jovens usando camiseta, bermudas de surfe, boné virado para trás e sandálias, passava apressada pelo corredor, fazendo muito barulho. Nenhuma ação violenta das tribos foi flagrada pela reportagem do Correio, assim como não houve truculência por parte dos seguranças
segunda-feira, 14 de abril de 2008
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