segunda-feira, 28 de abril de 2008

Promotor deve pedir preventiva para os Nardoni

Depois da simulação da morte da menina Isabella, o inquérito policial deve ser encerrado hoje e encaminhado à Justiça até terça-feira, quando o crime completa um mês. O promotor Francisco Cembranelli terá 15 dias para denunciar o casal, o que já está definido que fará, como base nas provas levantadas pela perícia técnica. Junto com a denúncia, o promotor deverá solicitar a prisão preventiva do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, indiciados no inquérito policial como autores da morte da menina. Trata-se de um crime hediondo, com vários qualificadores e agravantes e neste caso é vedado aos acusados responder ao processo em liberdade. Teme-se que os acusados deixem o país, frustrando assim a aplicação da lei penal. A reconstituição foi considerada um recurso fundamental para o andamento das investigações sobre o caso. O promotor de Justiça Francisco Cembranelli acompanhou a repetição da simulação ao lado da delegada seccional Elizabete Sato e do delegado do 9º Distrito Policial, Calixto Calil Filho, responsável pelo inquérito. Para o delegado Calixto Calil, a ausência do casal não atrapalhou a encenação. Sem o casal, a reconstituição foi feita somente com base nos laudos do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico Legal. A idéia inicial era que o casal interpretasse também a sua versão dos fatos. O casal nega qualquer envolvimento na morte da criança. Nem mesmo a escolha da polícia de não jogar do sexto andar, do apartamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, a boneca com tamanho e peso iguais aos de Isabella Nardoni, 5, diminuiu o impacto da cena vista pelas autoridades que acompanharam a encenação do lado de fora do edifício London, na Rua Santa Leocádia, onde a menina foi morta no dia 29 de março. Depois de colocar na janela do quarto dos irmãos de Isabella a tela que estava no quarto da menina e fazer um buraco um perito ficou vários minutos com a boneca no colo, sobre uma cama, como a polícia diz ter ocorrido. O assassino de Isabella teve de olhar para o rosto da menina o tempo todo enquanto segurava suas mãos e se preparava para lançá-la de uma altura de 20 metros, do sexto andar. A boneca foi colocada para fora da janela aos poucos. Inicialmente, seus joelhos dobraram e os pés tocaram o parapeito da janela ainda do lado de dentro. Em seguida, a boneca foi segurada pelas duas mãos e com o rosto virado de frente para o perito. Primeiro foi solta uma das mãos do manequim, a esquerda. Esta mão teria então deixado marcas na parede do prédio, que ontem foram assinaladas com fita adesiva pela perícia. Em seguida, a mão direita foi solta. Ao contrário de Isabella, a boneca estava presa por uma corda e pendeu na parede até ser novamente recolhida para o interior do apartamento. Mesmo sabendo a cena que iriam ver do lado de fora do prédio, houve comoção entre autoridades e policiais que viram a cena. É possível imaginar o grau de comoção se tivessem jogado a boneca do sexto andar, como foi feito com Isabella. A cena foi descrita como “impressionante” por várias pessoas que a viram. “ Dificil heim... - foi a observação da delegada Seccional Norte, Elizabeth Sato, que acompanhou a cena ao lado do representante do Ministério Público e do delegado que comanda o inquérito, Calixto Calil Filho, do 9º Distrito Policial. - Foi bem alto de onde ela caiu - disse Calil Filho, enquanto o promotor Francisco Cembranelli balançava a cabeça inconformado. A Secretaria de Segurança Pública afirmou que a boneca custou US$ 2.500, equivalente a R$ 4.167 - e que se-trata de um manequim forense que será usado outras vezes, pois pode ter seu peso alterado de acordo com a vítima. Foi encomendado também um boneco de tamanho adulto, que estaria sendo usado na reconstituição do crime dentro do apartamento do pai de Isabella. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá não compareceram. A lei brasileira prevê que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Mas nem mesmo os advogados de defesa estiveram no local para acompanhar os trabalhos, o que seria comum acontecer.
Vizinho fala da reação de Alexandre e Anna Carolina
; Na simulação do que aconteceu depois da queda de Isabella, quando seu corpo já estava no jardim, a encenação foi orientada principalmente por Antonio Lúcio Teixeira. Morador do primeiro andar e testemunha, ele orientou a posição da boneca e deu detalhes sobre a posição das pernas e da cabeça da menina. Chegou a dizer que a boneca não tinha a flexibilidade necessária, pois o corpo parecia grudado à grama. Diante da insistência dos peritos para que prestasse atenção aos detalhes, Teixeira desabafou: “ Estou emocionado e nervoso”. Mesmo assim, deu detalhes de como Alexandre Nardoni chegou direto ao jardim e foi colocar o ouvido no peito da filha para ouvir se o coração ainda batia. Teixeira diz ter perguntado a Alexandre o que havia acontecido e ouvido dele a mesma versão dada à polícia: “Arrombaram meu apartamento, rasgaram a tela de proteção e jogaram a minha filha”. O vizinho contou que Anna Carolina Jatobá chegou depois com um bebê no colo, logo teria deixado no colo de uma moradora do prédio e que teria passado a falar palavrões e dizer que o prédio era inseguro, “uma porcaria”. Depois disso, a madrasta de Isabella teria se afastado e falado ao celular perto da cerca do prédio, de onde o conteúdo da conversa não pode ser ouvido. Os palavrões que as testemunhas dizem ter sido proferidos por Anna Carolina no térreo do prédio não foi repetido pela dublê, que não disse sequer uma palavra, apenas ocupou as posições da madrasta de Isabella, indicadas pelas testemunhas, e apontou para o porteiro. Teixeira contou ainda que Alexandre chegou a pedir ao porteiro que fosse até seu apartamento e que ele mesmo disse que não seria necessário, pois o prédio só tem duas saídas. O Resgate e a polícia já haviam sido chamados por ele.
Oito testemunhas ajudaram
; Oito testemunhas foram convocadas para auxiliar nos trabalhos: o porteiro, os casais do 1º e 3º andares do edifício, o subsíndico e um casal que mora no prédio em frente. Com a ausência do casal Nardoni, dublês foram convocados para fazer o papel de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá na reconstituição da morte de Isabella Nardoni. O objetivo dos peritos do Núcleo de Crime Contra a Pessoa do IC, que conduzem a reconstituição, será confrontar as informações dos depoimentos com as provas testemunhais e físicas do crime. Serão contrapostas versões, para que os investigadores avaliem tecnicamente o que, na prática, é plausível ter acontecido na noite do crime. A encenação começou às 9h40m. Sem a presença de Alexandre e Anna Carolina, os peritos tiveram a versão do pai e da madrasta para o crime apenas com base nos depoimentos dos dois. Os dois dizem que alguém entrou no apartamento e atirou Isabella pela janela. Nesta versão, Nardoni diz que levou Isabella até a cama primeiro e voltou ao carro para buscar a mulher e os outros dois filhos, que também dormiam. O promotor Francisco Cembranelli afirmou que esta era uma versão fantasiosa e os peritos chegaram à conclusão que um assassino desconhecido teria 4 minutos para entrar no apartamento usando uma chave, agredir e asfixiar a menina por 3 minutos, limpar seu rosto, fazer o buraco na rede e atirar pela janela. E teria ainda de ter limpado a cena do crime antes de fugir sem ser visto e sem deixar vestígio. Na versão da polícia, a história é diferente desde antes de chegar à garagem. Isabella teria sido machucada no carro e a família teria subido junta para o apartamento, onde Anna Carolina esganou a menina e Alexandre a atirou pela janela.

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