quarta-feira, 30 de abril de 2008

Mãe acusa polícia de executar adolescente

Por Silvana Blesa/Tribuna da Bahia
Mãe se desespera ao reconhecer o corpo do filho Anderson Santana Santos, de 17 anos, morto a tiros. Ela acusa policiais do grupo Tático e Operações Rodoviárias, (TOR), de prender o adolescente, sem ferimentos, e logo depois dar entrada no Hospital Menandro de Farias, no município de Lauro de Freitas, sem vida. “O que fizeram com meu filho, meu Deus? Quero meu filhinho vivo. Por que eles (a polícia) não prenderam apenas, por que matar...?” Estas foram as palavras de desabafo da mãe de Anderson, antes de desmaiar ao constatar que seu filho era um dos quatro homens mortos em um suposto confronto com a polícia. O garoto morreu com mais três homens, acusados de traficar drogas. O grupo teria sido surpreendido pelos policiais e na troca de tiros que teria acontecido os quatro foram mortos. No entanto, moradores da localidade de Estiva de Buris, em Vilas de Abrantes, dizem que, surpreendidos pela polícia, os suspeitos fugiram, sendo perseguidos pelos soldados. Anderson teria sido preso em cima de uma laje e, pressionado, guiou os policiais ao local onde seus três amigos estavam escondidos. Depois foi visto entrando, sem ferimentos, no carro da polícia. Mas tarde seu corpo foi encontrado no Hospital Menandro de Farias. Além de Anderson, morreram no confronto, Jeferson Araújo da Silva, de 23 anos, apelidado de ‘Jau’, Valmir Torres Santana, 34, o ‘Mem’ e um outro rapaz de cor negra aparentando 25 anos, que trajava calça de malha preta e sem camisa. Ele não portava documentos e nenhum familiar compareceu, até ontem à noite, ao Instituto Médico Legal para fazer o reconhecimento do corpo, assim como nenhum policial o reconheceu. O tenente Kleberson, que comandou a operação da TOR, grupamento da Polícia Rodoviária Estadual, com sede em Arembepe, negou a versão colocada pela mãe do adolescente e contou que sua guarnição foi recebida a tiros, Eles revidaram e os quatro suspeitos morreram. O tenente ressaltou que recebeu uma ligação anônima no final da tarde da última segunda-feira informando que oito homens estavam traficando drogas em uma casa amarela, localizada na invasão de Estiva de Buris, em Vilas de Abrantes. Por volta das 4 horas da madrugada de ontem, os sete policiais do comando da TOR cercaram a residência e, conforme Kleberson, foram recebidos à balas. “Na troca de tiros, dois deles foram baleados. Enquanto outros correram para as dunas, nova troca de tiros ocorreu, com mais dois baleados”, disse o tenente. Kleberson ainda afirmou que quatro homens conseguiram evadir do local. Os políciais dizem que prestaram socorro, levando as vítimas ao Hospital Menandro de Farias, onde chegaram mortos. Dentro da casa onde os rapazes se encontravam, os policiais apreenderam 36 pedras de crack, 63 trouxinhas de maconha prontas para serem comercializadas, uma pistola calibre 380, um revólver 38 e outro 32, além de uma luneta e um binóculo que os agentes disseram que serviam para eles ficarem olhando a possível chegada da polícia na área. As armas apreendidas, segundo os agentes, teriam sido usadas durante a troca de tiros e se encontram na 26ª Delegacia de Vilas de Abrantes, onde o auto de resistência foi lavrado.
Saíram da cadeia para morrer
; Os políciais da 26ª D.P informaram que Valmir Torres o ‘Mem’ e Jeferson Araújo o ‘Jau’, foram presos na última sexta-feira na localidade de Areias, invasão de Vilas de Abrantes, saindo de uma boca-de-fumo. ‘Mem’ estava com pouca quantidade de crack e ‘Jau’ por estar na sua companhia foram encaminhados para a delegacia. Ficaram detidos até o final da tarde de anteontem, quando foram soltos e retornaram para a casa que era alugada pelo bando. O tenente Kleberson disse que já estava no encalço dos traficantes, e revelou que há três meses prenderam um rapaz apelidado de ‘Zé da Luneta’ que se encontra detido na 26ª D.P pertencente a mesma quadrilha. O tenente ainda realçou que o apelido do preso é devido ao bando utilizar um ‘guardião’ que fica em cima da laje da casa, averiguando através da luneta ou binóculo, a entrada de policiais no local, além de usar fogos de artificio para anunciar a entrada da polícia na invasão, dando o alerta para a fuga. “Sabendo desta prática dos traficantes, nos organizamos para pegá-los de surpresa durante a madrugada. Mas quando chegamos no local, mesmo sem fazer barulho, pois deixamos o carro afastado e seguimos andando. Possivelmente, os traficantes foram avisados e saíram correndo atirando quando perceberam que estavam cercados”, concluiu o tenente Kleberson. O clima em Estivas de Buris era tenso, os moradores temendo represálias se limitaram em dizer o local onde aconteceu a troca de tiros. E não quiseram comentar sobre o assunto. (Por Silvana Blesa)
Versões do tiroteio são conflitantes
; Políciais informaram que as vítimas eram envolvidas com o tráfico de drogas, estelionato e suspeita de homicídio. ‘Jau’ era morador do bairro de Portão e já tinha sido preso por portar documento falso. Sobre ‘Mem’, morador da localidade de Areias, a polícia afirmou que ele era traficante e suspeito de matar uma pessoa na Aldeia Hippie em Arembepe. Segundo a polícia, o adolescente Anderson Santana, que residia em Lauro de Freitas, já tinha sido encaminhado para averiguação duas vezes, sendo a última há 20 dias, por estar usando maconha. Os policiais disseram que vinham investigando os passos de Anderson e descobriram que ele trabalhava para a quadrilha de um traficante apelidado de ‘Guelé’, que opera no bairro de Portão. “Guelé queria tomar o ponto de drogas de outro traficante de prenome Norielson, o ‘Nô’. Devido à rixa entre os dois, ‘Nô’ matou dois integrantes do bando de ‘Guelé’ ”, revelou um agente do Serviço de Investigação da 23ª D.P. A mãe do adolescente Anderson Santana, que se limitou a identificar o corpo e não quis se identificar, mesmo emocionada diante da situação, não omitiu que o filho era envolvido com a criminalidade, mas revoltou-se ao saber, através de uma ligação telefônica de uma pessoa conhecida por ela, falando da abordagem da polícia. “A pessoa que me ligou, dizia que o meu filho estava na laje da residência quando foi detido e obrigado a dizer onde estaria o restante do bando. Em nenhum momento ele atirou na polícia. Quando foi colocado dentro do carro da polícia, ele estava vivo e sem ferimentos. Mesmo que estivesse envolvido com algo errado, a obrigação da polícia é prender e não matar como fizeram”, lamentava a mãe do garoto. Ela informou que o filho tinha saído de casa há três dias, dizendo que iria para residência de seus amigos em Vila de Abrantes. (Por Silvana Blesa)

Nenhum comentário: