quarta-feira, 30 de abril de 2008

Curso de medicina da Ufba entre os 17 piores do país

Universidade baiana teve nota 2, numa escala de 1 a 5, e terá supervisão do Ministério da Educação

Ciro Brigham

O curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) está na lista dos piores do Ministério da Educação (MEC): recebeu conceito 2 – numa escala de 1 a 5 – tanto no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) como no Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado (IDD), relativos ao ano de 2007. O resultado deixa o curso entre os 17 piores de todo o país, numa relação de 103 examinados. Os dados foram divulgados ontem. Em entrevista coletiva concedida em Brasília, o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que o MEC vai supervisionar os cursos com indicadores deficientes e cobrar medidas para o seu saneamento.
A Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb), ligada à Ufba, faz companhia a outras três instituições federais de ensino superior, todas do Norte e Nordeste, que tiveram conceitos 1 ou 2 no Enade e no IDD. Assim como o curso oferecido pela Fameb, os das universidades federais do Amazonas (Manaus), Pará (Belém) e Alagoas (Maceió) receberão acompanhamento do MEC no processo de saneamento e “recursos adicionais, se necessário, para superação das deficiências, sem prejuízo da apuração de responsabilidade de seus dirigentes”, informou o ministério.Na lista dos cursos avaliados pelo MEC constam ainda os oferecidos por outras duas instituições baianas: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc/Ilhéus). Enquanto a faculdade privada da capital teve avaliação conceito 3 no Enade (sem conceito no IDD), a pública do sul do estado alcançou 4 no Enade e 3 no IDD. Os 11 primeiros cursos da lista, em qualidade, são de entidades públicas.
O comunicado oficial às 17 faculdades responsáveis pelos piores resultados será encaminhado por carta, no início da próxima semana. A comissão de avaliação da Secretaria de Educação Superior (SESu/MEC) cobrará explicações sobre o fraco desempenho. O diagnóstico deverá abordar a organização didático-pedagógica; a integração do curso com os sistemas local e regional de saúde; o perfil dos quadros docente e discente; a oferta de vagas nos processos seletivos de 2008; e a infra-estrutura, com identificação das condições de oferta das disciplinas de práticas médicas, em especial o estágio curricular, as condições da biblioteca e a produção científica.
Caso a SESu considere suficientes as medidas corretivas apresentadas, o MEC poderá celebrar termo de saneamento com a instituição de ensino. Se houver discordância quanto ao diagnóstico, o ministério poderá visitar o curso e instaurar processo administrativo para aplicar sanções, que incluem desativação de cursos e habilitações, suspensão temporária de prerrogativas de autonomia e da abertura de processo seletivo e até a cassação do reconhecimento de curso.
Diretor admite crise e relaciona problemas
O diretor da Fameb, José Tavares Neto, diz que a constatação é óbvia diante das condições a que o curso esteve relegado nos últimos anos. “Eu já esperava por isso desde 2004. Não foi à toa que a congregação pediu o cancelamento do vestibular naquela altura, algo não estava bem e precisava mudar”, argumenta. Para Neto, os principais pontos fracos do curso estão nos campos de prática: experiência deficiente em Saúde da Família, falta de estrutura no Hospital Universitário Edgar Santos, problemas “sérios” de treinamento em pronto-socorro e limitação de leitos em UTI na cidade.
“Até que inventem outro tipo de roda, não é possível formar alunos somente em sala de aula. Sem falar que um outro complicador é que muitos dos nossos alunos faltaram ao Enade e suas provas foram registradas com conceito zero, o que também prejudica a avaliação global”, sustenta.
A primeira turma do curso de medicina da Fameb formada a partir do novo projeto de reforma curricular só conclui os estudos em 2011. Até lá, Tavares Neto espera ver mudanças significativas na disparidade entre o tratamento dado à pesquisa e ao ensino. “Temos duas pós-graduações com conceito máximo do MEC. A pesquisa tem sempre mais recursos. Então, o professor não é estimulado para o ensino. Você acha que eu consigo colocar pra dar aula um professor que ganha R$700, fora os benefícios, enquanto ele pode ganhar oito ou dez vezes mais no consultório?”, questiona.
O presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Jorge Cerqueira, ficou surpreso ao saber do resultado. “Estou perplexo. Até aqui, a informação que eu tinha é de que o curso de medicina da Ufba era considerado muito bom. E sei que passou por uma reformulação completa da grade curricular para que a coisa ficasse ainda melhor. É preciso analisar com calma os critérios utilizados”, sugere Cerqueira.

Nenhum comentário: