domingo, 27 de abril de 2008

Ataque ou Transtorno do Pânico: um mal da contemporaneidade?
Marco Aurélio Martins / Agência A TARDE


Irismar de Oliveira, especialista em síndrome do pânico
Carolina Mendonça, do A TARDE On Line
Ao embarcar em um vôo para o Rio de Janeiro, em 2006, a arquiteta Claudia*, 29, começou a sentir palpitações, desconforto abdominal, ondas de calor pelo corpo, mas, acima de tudo, teve a certeza de que ia morrer. Com a impressão de que podia estar ficando "maluca", ela procurou atendimento médico e recebeu o diagnóstico: tinha tido um ataque de pânico.
Mais comum entre adultos jovens, principalmente mulheres, a crise pode acometer pessoas que, por algum motivo (orgânico, psicológico ou situacional) estejam passando por um período de intensa ansiedade.
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É uma sensação muito ruim. Naquele momento, você tem certeza de que vai desmaiar ou de que algo horrível vai acontecer. A vontade é de fugir daquele lugar, daquela situação", relata a arquiteta. Mesmo depois de procurar ajuda profissional e iniciar um tratamento medicamentoso, associado à terapia, Claudia ainda passou por uma forte crise, também relacionada à viagens de avião, além de viver situações de pré-Ataque, as quais ela conseguiu controlar com medicação e respiração.
No caso de Beatriz*, 31, as crises duraram cerca de cinco anos. Durante este período, ela chegou a desmaiar em locais públicos. "Não dava tempo de avisar às pessoas ao meu redor do que se tratava. Acho que o corpo não aguentava a pressão", acredita. A advogada admite que, por conta do preconceito, demorou a aceitar a medicação indicada pelo psiquiatra e acredita que isso pode ter colaborado para o descontrole das crises.
Doença - As crises ou Ataques de Pânico fazem parte dos chamados Transtornos de Ansiedade, antigamente chamados de "neuroses". Durante os Ataques, que surgem repentinamente, a pessoa pode sentir extrema ansiedade, sensação de perigo ou morte iminente, falta de ar, dores no peito, tontura, entre outros. Os Ataques expontâneos e contínuos podem caracterizar o Transtorno ou Síndrome do Pânico. Na opinião do presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia, Bernardo Assis Filho, a doença não é um “mal do nosso tempo” e sempre existiu, pois a ansiedade - frente aos eventos da natureza, ao desconhecido - acompanha o homem desde os tempos imemoriais, mas não se pode descartar o estresse e as pressões sócio-econômicas como elementos que reforçam este sentimento.
Numa tentativa de “explicar” a doença, formou-se, nos últimos 40 anos,
três linhas de pensamento. Uma corrente mais comportamental faz uma associação das crises à elementos que remetem a situações de extrema ansiedade ou medo. A linha ligada à psicanálise acredita que pode haver relação entre um desejo ou sentimento reprimido e o pânico. Há ainda uma corrente que acredita haver algum fator orgânico ou uma relação de hereditariedade. Existem também os que consideram arriscado definir uma causa para o transtorno.“As causas ainda são desconhecidas e podem ser a combinação de vários fatores. Em muitos casos, o trantorno pode ser, inclusive, um sintoma preditivo de depressão”, afirma Assis Filho.
Tratamento – Entre os médicos psiquiatras, não há um concenso em relação à possibilidade de cura da doença, mas é fato que o tratamento adequado pode melhorar bastante a
qualidade de vida dos pacientes. Os tratamentos costumam utilizar uma combinação de sessões de terapia e medicações, se necessário. Ultimamente, a psiquiatria tem “apostado” mais nos antidepressivos e nos ansiolíticos, para os momentos de crise.
“Primeiro, deve-se tentar a terapia exclusivamente, principalmente para se ter uma maior clareza diagnóstica. Não conseguindo resultados apenas com as sessões realizadas nos consultórios, deve-se associar também medicamentos”, avalia Assis Filho.
Já o psiquiatra e professor da Faculdade de Psiquiatria da Universidade Federal da Bahia, Irismar de Oliveira, acredita na remissão total do Transtorno, por meio de uma terapia cognitivo-comportamental. Resumidamente, o tratamento consiste na reversão de crenças psicológicas destorcidas, enfrentamento e controle da ansiedade. Oliveira explica que os sintomas dos ataques, que seriam naturais e úteis numa situação real de perigo, são exacerbados involuntariamente, por conta de uma percepção tendenciosa do indivíduo que, diante do pânico instaurado, tende a querer fugir do desconforto extremo. “Com as sessões, em pouco tempo, a pessoa começa a ficar consciente do processo pelo qual está passando. Daí, sai da condição de incapacidade e começa a controlar a ansiedade, com o auxílio da respiração realizada de forma calma”, esclarece. Ele não aconselha o uso de psicotrópicos, por conta do risco de dependência das drogas.
Em todos os casos, no entanto, depois de diagnosticado o Ataque ou Transtorno do Pânico por profissionais da área, os médicos recomendam que
a família tenha uma atitude de compreensão e apoio, e nunca confundir a crise com uma “frescura” ou o que costumamos chamar de “pití”. “Quando tinha um Ataque, as pessoas diziam “calma, não é nada, vai passar”, aí meu desespero aumentava”, recorda Beatriz. Os médicos ressaltam que familiares e amigos devem entender que a doença não é uma escolha do indivíduo, portanto, não se deve fazer um julgamento moral da situação.
* Os nomes utilizados na matéria são fictícios para preservar a identidade das fontes.

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