quarta-feira, 30 de abril de 2008

PM mata quatro acusados de tráfico em Abrantes

Bruno Wendel e Josué Silva
Quatro homens acusados de tráfico de drogas foram mortos por policiais militares do grupamento Tático Ostensivo Rodoviário (TOR), ontem de madrugada, na localidade de Estivas de Buris, em Vilas de Abrantes, distrito do município de Camaçari. Moradores da região denunciaram que as vítimas, entre elas um adolescente de 17 anos, foram brutalmente executadas com vários tiros, contrariando a versão de confronto apresentada pelos policiais na 26ª Delegacia.
Segundo a PM, Jeferson Araújo da Silva, 20, Valmir Ferreira Santana, 35, Anderson Santana Santos, 17, e um outro homem ainda não identificado, teriam reagido a tiros a uma abordagem e acabaram mortos no revide. Dois revólveres calibres 38, um outro de calibre 32, uma pistola 380, um relógio de pulso, 38 pedras de crack e 65 trouxinhas de maconha, que suspostamente pertenciam aos mortos, foram apresentados à delegada Mariana Ouais, plantonista da 26ªDP, que lavrou o auto de resistência.
Revoltados, moradores disseram que os quatro homens executados, entre eles o adolescente, que fazia biscate de estofador, foram surpreendidos por duas guarnições da PM, por volta das 4h30. Eles estavam na laje de uma residência, quando os policiais chegaram atirando. Os quatro ainda tentaram correr, mas foram alcançados e fuzilados. Dois deles tiveram o corpo crivado de balas em um beco. Outras duas vítimas, entre elas o adolescente, foram baleados quando fugiam em direção a um areal.
“Foi horrível demais”, contou uma dona de casa, que chegou a presenciar a execução de Anderson. “O rapaz gritava que era inocente, mas os policiais não tiveram piedade. Arrastaram ele e atiraram várias vezes. Anderson ainda chegou a dizer que estava vivo e um PM retornou e descarregou a arma”, indignou-se.
Ainda segundo moradores, após as execuções, o terror ainda continuou na comunidade. Enquanto uma parte arrastou os corpos, jogou os cadáveres no porta-malas das viaturas e deixou o local em disparada, um outro grupo de PMs da TOR invadiu várias casas com armas em punho, à procura de supostos bandidos. Eles começaram a vasculhar residências, destruindo móveis e agredindo verbalmente os proprietários. “Não respeitaram ninguém. Pais de família, mães, crianças e idosos eram ameaçados e xingados o tempo todo”, contou um ajudante de pedreiro, que pediu para ter o nome preservado.
Uma mulher, que também não quis revelar o nome temendo represálias, disse que há cerca de uma semana policiais da TOR e do Batalhão de Choque da PM vêm aterrorizando a região. “Eles acham que todas as pessoas que moram em invasões são marginais. Uma vizinha teve que ser hospitalizada depois que PMs armados invadiram sua casa numa madrugada para matar o filho dela. A sorte é que o adolescente conseguiu escapar pelos fundos”, contou.
***
Versão oficial
De acordo com a versão oficial, apresentada pelo tenente da PM Kleberson, que comandou a operação, os quatro mortos faziam parte de um grupo de oito pessoas que estavam em uma residência, transformada em boca-de-fumo. Após uma denúncia anônima, duas guarnições seguiram para o local. A tropa entrou a pé na invasão, tentando surpreender o grupo. Mas, ao se aproximar de uma residência, foram recebidas à bala. No revide, os acusados de tráfico tombaram. Os baleados teriam chegado com vida ao Hospital Menandro de Farias, em Lauro de Freitas, para onde foram levados pelos policiais.
Entre os mortos, Jeferson Araújo e Valmir Ferreira estiveram presos na 26ª Delegacia de Polícia (Vila de Abrantes), por porte de droga, e foram libertados anteontem, devido a um habeas corpus. De acordo com agentes da 26aDP, a localidade de Estiva de Buris vem se constituindo em ponto de tráfico.

Nenhum comentário: