sábado, 26 de abril de 2008

Pelegrino dá saída no PT rumo à sucessão

No estilo gongórico de antigamente, poder-se-ia dizer que é de marchas e contramarchas o processo que vive o glorioso Partido dos Trabalhadores para definir-se ante a eleição de prefeito de Salvador. E não é de agora esse vaivém, pois praticamente começou com a eleição de Jaques Wagner para governador do Estado em outubro de 2006. A inesperada ascensão de um PT que na Bahia parecia condenado à eterna oposição acentuou a divisão existente no partido de múltiplas tendências. As que se juntam para lançar hoje, às 9 horas, no Colégio das Mercês, a candidatura do deputado Nelson Pelegrino nada mais fazem que alimentar a perspectiva de poder local, já concretizada nos planos federal e estadual, com o presidente Lula e o próprio Wagner. Do outro lado, posicionam-se os até pouco tempo defensores de um projeto mais abrangente, que incluísse a reeleição de Wagner em 2010 ou sua indicação à sucessão de Lula, com duas vagas negociáveis ao Senado. Mas para isso seria de fundamental importância a consolidação da aliança com o PMDB do ministro Geddel, isto é, apoio a João Henrique. Descartada essa possibilidade, nova etapa se desdobra, com o deputado Walter Pinheiro renegando a suposta falta de apetite e ironizando sem cerimônia o companheiro-adversário, “pré-candidato desde 1996”. Pinheiro, no dizer de um dirigente petista adepto de Pelegrino, “queria ser ungido, mas ungido só Moisés para abrir as águas e atravessar o Mar Vermelho”. Apesar de ser um pregador evangélico, e como tal conhecedor profundo da Palavra, do partido não obterá esse milagre. Se agora, com relativa tardança, pretende disputar a candidatura, terá mesmo de engolir as prévias e o processo “autofágico” que tanto condena. Quem espera de Jaques Wagner uma preferência explícita na sucessão de Salvador faz maldade com o governador, que na nova Bahia que ele mesmo propôs recusa o papel de ditar e ser obedecido. Sabe quanto lhe custaria essa veleidade pela impossibilidade completa de realizá-la a tacão. Cair na tentação seria reunir contra si forças variadas - umas surpresas com a súbita liberdade de manobra, outras ciosas de seu antigo exercício e dispostas a brigar por ela. Foi assim quando o processo ainda girava em torno do prefeito João Henrique, e o governador, sem deixar de considerar de sua base diversos candidatos, até mesmo Antonio Imbassahy, carlista que tucanou, eximiu-se de escolha pessoal, pregando a unidade da coligação, mas festejando a “efervescência”, palavra dele, pronunciada risonhamente. Definida no PT a opção por uma candidatura própria, Wagner não mudou a tese, apenas flexibilizou-a. Se é desse jeito, então que façam, sem o PMDB, a meia-unidade de PT, PCdoB e PSB. Mesmo que se consiga essa proeza, “a base” teria três candidaturas, incluindo a do PSDB. Risco alto para uma antiga aliança, que vai enfrentar em outubro uma oposição encarnada em ACM Neto, do DEM, sem falar no enigma Raimundo Varela (PRB), ainda hoje sem muito tempo de rádio e TV no horário eleitoral para fazer o que sabe. O governador certamente preocupa-se com a ida ao segundo turno de um candidato que não tenha comido “sol e poeira”, ingredientes básicos de sua campanha. Tem consciência de que não chegar forte na rodada final pode custar caro a seu projeto. Entretanto, sem paradoxo, seu projeto envolve também isto: se perder na capital, colherá os frutos da constatação de que é realmente um democrata e, sem ser “ingênuo”, como sempre afirma, dará grande contribuição para que a Bahia caminhe politicamente pela vontade comum de seus líderes. (Por Luis Augusto Gomes)

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