quinta-feira, 8 de maio de 2008

Rodoviários param a cidade em meio a protestos

Por Fernanda Chagas

Um dia de caos para os usuários do transporte público de Salvador. Além dos ônibus intermunicipais que ficaram presos nas garagens por volta de 3h – a paralisação começou às 4h50, quando o primeiro veículo com destino a Teixeira de Freitas partiria e só terminou às 8h –, os rodoviários pararam o trânsito da cidade na tarde de ontem, quando realizaram uma passeata, que saiu do Sindicato dos Eletricitários do Estado da Bahia (Sinergia) até a Rótula do Abacaxi. A tendência, é que nos próximos dias, a situação se agrave ainda mais, já que segundo a própria categoria, se for preciso, pararão não apenas a capital baiana, mas todo o Estado. De acordo com o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Manuel Machado Filho, as atuais manifestações “são apenas filhas e as mães ainda estão por vir. Afinal, não podemos permitir que os empresários, que mais lucram nesta história, travem a mesa de negociação sem apresentar sequer uma contraproposta”. A categoria pede aumento de 12,32%, entre reajuste e ganho real. Os empresários não aceitam nenhum reajuste. Hoje, por exemplo, não está descartada a possibilidade de uma nova paralisação envolvendo os ônibus urbanos, das 4h às 8h. Segundo Jota Carlos, secretario do Sindicato dos Rodoviários, a categoria vai impedir a saída dos ônibus da garagem de três empresas, que serão sorteadas às 3h da madrugada. As 9h está marcada uma reunião no Setps e a tarde está prevista uma assembléia no Sinergia. “Se for preciso, faremos paralisações-relâmpago todos os dias, intercalando o transporte urbano e intermunicipal, até os empresários aceitarem fornecer o reajuste solicitado”, destacou o secretário do sindicato, ressaltando que a categoria também pensa outras formas de protesto para a próxima semana. “Uma idéia em análise é travar a roleta e rodar com passagem gratuita, todos os usuários entrando pela frente”, acrescentou. Machado Filho alegou ainda que o protesto tem sentido duplo. “Não estamos brigando apenas contra a intransigência patronal , mas também contra a Agerba, que teve problemas na administração passada , cujo empresários deixaram de cumprir com suas obrigações e, como forma de resolver o problemas estão colocando o nosso trabalho em risco. Estão licitando linhas, sem se preocupar com o número de trabalhadores que estão desempregando, muito menos quem vai nos indenizar e isso não vamos aceitar”, afirmou.
Setps se defende e justifica falta de consenso
O coordenador de Relações Sindicais do Setps, Jorge Castro, por sua vez, explicou que a dificuldade em conseguir um consenso surgiu devido ao aumento “surpresa” do diesel em 11%. Conforme ele, a receita mensal para colocar nas ruas os 2.400 ônibus que circulam em Salvador é de R$68 milhões. Desses, R$14 milhões são gastos apenas com combustível e R$29 milhões com salário. “Ou seja, do total das despesas, 76% reúne apenas três itens: tributos diretos, salário e combustível. Mas esses não são os únicos problemas. Há ainda a meia-passagem, a gratuidade e as fraudes. Se houver a redução dos benefícios, aí sim, acredito na diminuição dos gastos, o que possibilitaria um acordo”, explicou. Ainda de acordo com o coordenador do Setps, se o preço do ônibus fosse R$2,28, não haveria problemas para negociar as melhorias exigidas pelos trabalhadores. “Aumentou a água, o diesel, o salário mínimo. Então o preço do produto também precisa aumentar”, justificou Castro. Em meio a toda essa “guerra”, a população se diz a mais prejudicada. “Para mim isso tudo não passa de uma boa palhaçada. Por que não travar as garagens sem prejudicar o povo. Como sempre quem paga somos nós que não temos nada a ver com a história”, indignou-se o motorista Rafael Coutinho, que ficou preso no trânsito com a família, por conta da passeata de ontem. Assim como ele, a secretária Tânia da Luz não concorda com a forma de pressão utilizada pelos rodoviários. “Saí do trabalho e vou ter que voltar para casa a pé. A minha pergunta é: o que nós temos a ver com isso? Pior é quem ganha salário mínimo e não tem a quem recorrer”, declarou. Somente com a paralisação dos ônibus intermunicipais uma média de 1,2 mil deixaram de viajar e 46 horários não foram cumpridos na Rodoviária. Dezesseis empresas não operaram. O transporte de funcionários para o Poló, Cia e Refinaria também foi prejudicado. Sem falar, nos engarramentos causados em toda a cidade.

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